25 março 2019

Chamarrita do Pico em Setúbal

A Chamarrita dos Açores é um dos raros bailes mandados que existem, ainda hoje, em Portugal. A ‘rainha das danças’ presidia às ‘folgas’, após mais um árduo dia de trabalho no campo. Com ela se inaugurava o soalho de uma nova casa. Havia mesmo jovens que fugiam pela janela para se juntar à roda, desafiando as proibições paternas. Entre ilhas, e mesmo de aldeia para aldeia, coexistem diferentes versões da coreografia. Normalmente acompanhada por instrumentos de corda, e por vezes também cantada.
Nos séculos XVII e XVIII, com a migração de açorianos para a América do Sul, a Chamarrita criou raízes no território de que fazem hoje parte o Brasil, o Uruguai e a Argentina. Ou terá sido o contrário? A influência brasileira que a trouxe para as ilhas? Uma coisa é certa: é de tal forma viciante que em Entre Rios, na Argentina, lhe deram o nome de limpia bancos. Ninguém ficava (fica) sentado ao ouvir os primeiros toques da viola. Muitas vezes testemunhei (e fui cúmplice) desse fenómeno, que não poupa os bailadores de qualquer paragem, seja em Portugal, em Inglaterra ou mesmo em Moçambique.
Uma roda de Chamarrita – neste caso da ilha do Pico - será, sem dúvida, a forma perfeita de darmos as boas-vindas à Primavera. Vamos dar largas à alegria, experimentar diferentes instrumentos, e bailar muito pela tarde fora. A 31 de Março, em Setúbal, vai ter oportunidade de aprender os passos e os ‘mandos’, dos mais básicos aos mais requintados. E não vai resistir a entrar na roda. “Vamos embora!”

31 de Março, 17h-19h
Jardim do Bonfim, Setúbal

Organização:
Câmara Municipal de Setúbal

Mandadora:
Carla Gomes

Músicos:
Filipe Gomes
Nuno Carpinteiro
David Rodrigues


Festa do Cabrito, Verão de 2018. A tão aguardada Chamarrita <3 p="">

05 julho 2017

Chamarrita regressa ao Festival dos Gigantes


Oito anos depois, a Chamarrita regressa ao Festival Internacional de Gigantes (FIG), no Pinhal Novo. É com emoção que volto a bailar "em casa", num festival que me traz muito boas memórias.
Nas noites de 7 e 9 de Julho, vai haver oportunidade para aprender os passos e os "mandos", dos mais básicos aos mais requintados. E haverá até petiscos das ilhas, para quando formos "à praia"!

Chamarrita no FIG em 2009 (foto: Pedro Soares)

7 de Julho, 21h30
9 de Julho, 19h00 
(Espaço Gastronomia)

O FIG só se realiza a cada dois anos, é de aproveitar a oportunidade!

Programa completo , com três dias de dança, circo teatro e música:
http://fig.cm-palmela.pt


Celebrando a Europa: Chamarrita em Inglaterra

Tinha chegado, enfim, a altura de prestar homenagem à cidade que tão bem me acolheu desde 2013: Norwich, em Inglaterra. Foi aqui que vivi uma das etapas mais importantes da minha vida, a nível profissional e pessoal. Aqui fiz amizades que me vão acompanhar para sempre. Não haveria melhor forma de o celebrar do que partilhando um dos meus "bens" mais preciosos, daqueles que trago mais fundo na alma: a alegria da Chamarrita.
Tê-la levado pela primeira vez a Inglaterra, em 2017, carrega um simbolismo particular. Num momento político especialmente bizarro, em que tantas forças nos procuram apartar, nós, cidadãos de todo o mundo, demos as mãos e abrimos a roda. O grupo "Pied à Terre", que se reúne mensalmente para um baile de danças europeias, acolheu a 1 de Fevereiro uma "folga" de Chamarrita. De braços abertos, a ponto de escreverem uma partitura especialmente para a ocasião, que foi interpretada durante o baile por músicos de vários países.
Já tinha internacionalizado os workshops de Chamarrita quando os levei para África. Mas desta vez havia ainda mais um desafio - a primeira experiência de ensino do "bailho" em inglês! E ficou provado que a folia não se perde em traduções. Foi uma noite memorável, que me dá renovado alento para cultivar amizades, e celebrar a dança, por essa Europa fora. Um sincero obrigada aos amigos do Pied à Terre.



03 março 2016

 
 "Mini-pinturas" de Fátima Madruga 
e baile de Chamarrita

Regresso da Chamarrita "a casa". Ou a uma delas. Depois de umas andanças por outras paragens, incluindo uma longa temporada africana, juntamo-nos à pintora Fátima Madruga para uma noite especial em Palmela. A par da apresentação das "mini-pinturas" que homenageiam o património cultural de todo um país, vamos bailar muito, para matar saudades e contagiar mais gentes. 
E isto vai acontecer num dos lugares mais bonitos de uma das terras mais esplendorosas deste nosso rectângulo ibérico. O Espaço Fortuna, às portas da Quinta do Anjo e à beira da Serra da Arrábida. Quem quiser conhecer este novo ciclo de pintura, "Pequeno é Bonito", apareça e aproveite para entrar na roda! Vamos estar na Sala São Filipe (junto ao restaurante) a partir das 21h00, no sábado dia 5 de Março. A iniciativa está integrada nas comemorações do Dia da Mulher, organizadas pela Câmara Municipal de Palmela, e conta com o apoio do Espaço Fortuna-ADREPAL
A seu tempo, trarei aqui as aventuras tão longamente devidas. Contarei como as voltas da Chamarrita viajaram Moçambique fora, de Maputo aos confins da província nortenha de Nampula. E, porque há tantas vezes uma doce alegria naquilo que é pequeno e simples, deixo-vos as palavras da pintora (de quem tenho o privilégio de ser filha):
"PEQUENO É BONITO, disse-o Agostinho da Silva – embora com outras palavras - aconselhando-nos a voltar à criança que fomos, não a deixando morrer em nós. Esta exposição é uma evocação da Criança Eterna, que se expande em cada pormenor e se redime a cada passo. Sinto-a – à Criança - como uma alternativa ao lado assustador da vida, que este apenas o é por absurdamente inútil, perante a alegria da Infância."

 Espaço Fortuna - localização

Estrada Nacional 379, Quinta do Anjo 

Mais informação sobre Fátima Madruga 

ADREPAL-ADREPES
Associação de Desenvolvimento Regional da Península de Setúbal 

03 dezembro 2014

Alma de Chamarrita



 
Foto: Carlos Santos - www.dancastradicionais.net

Artigo publicado em Agosto de 2012 no site "Mundo Açoriano" (infelizmente extinto em 2015):


Se a Sapateia não der,

P’ra acalmar minh’alma inquieta,
Estou p’ró que der e vier,
Nas voltas da Chamarrita
.(1)

Mais um Verão ilhéu que chega ao fim. Mais um Verão a compensar nostalgias, a afagar raízes, a adiar imaginados projetos pátrios para regressar aos braços de outros projetos e de outras pátrias que nos vão conquistando o terreiro da vida.

Mais um aeroporto, mais um avião, mais uma partida, a alma a bailar ainda na inquietude das chamarritas e a ouvir os versos dolentes da “Chamateia”.

O meu alento vai e vem.
Como as vagas de mar que amaciam as fragas adormecidas dos vulcões e o canto das cagarras, que fica a ecoar na memória. Até daqui a um ano.

De festa em festa, e fazendo jus à fama que ganhei em adolescente – “só quer é folia” – persegui chamarritas pelas ilhas do Pico e do Faial durante o mês de Agosto, com a cumplicidade do meu irmão, também há muito contagiado pela alegria do “balho” mandado. O calendário do Verão constrói-se em função destes momentos.

Não surpreende que para aquietar as almas dos ilhéus tenha que ter surgido uma doce alegria como a das rodas da Chamarrita. Percorremos a ilha em busca dessas gentes que bailam, dessas coreografias e tradições que se transmutam a cada quilómetro galgado. Do Pico para o Faial e de novo para o Pico, partimos em busca de uma mesma alegria: o vício de “bailar”.

Os “mandos” podem ser ditos por um homem ou uma mulher – estas esforçando-se a plenos pulmões por se fazer ouvir pelos bailadores – podem ser mais energéticos ou mais ardilosos, mas um bom ritmo é fundamental. Vamos conhecendo os mandadores, os seus estilos, e aprendendo a par e passo as variantes das coreografias, em justa homenagem à “rainha das danças”, como lhe chamam no Sul do Brasil.

As palavras podem surgir supresas na hora, podem perder-se no bulício da festa, são diferentes para dizer “entra senhores” e “quebra para trás” - querendo significar o mesmo exato movimento - ou iguais mas querendo significar voltas diferentes. É preciso ter “olho vivo” quando a nossa tradição é outra, e corremos o risco de ser desmascarados como forasteiros quando baralhamos tudo e o mandador lança “água fora!”. E aí os “mandos” e os passos outrora tão certeiros desfazem-se em gargalhadas jocosas e ao mesmo tempo cúmplices. As deles e as nossas próprias.

Dependendo da origem dos bailadores, músicos e mandadores, o ritmo pode ser mais frenético ou mais compassado, mas a alma chamarriteira é sempre essa mesma a unir estes rochedos perdidos no meio do Atlântico. “Tudo baila!”, “Chamarrita!”, “só no Céu!”. Como que ébrios e esquecidos do mundo, embarcamos nesta dança.

A Chamarrita está na moda. Não há festa de Verão, da Semana do Mar às populares festas das freguesias e das pequenas povoações da costa, que não tenha uma ou duas noites de chamarritas no programa. Ilhéus de todas as idades, emigrantes e turistas, a todos contagia este vício de bailar. É um vício que não se explica, que se sente nos primeiros acordes da viola, que nos faz esquecer o tempo e perder o rasto ao cansaço.

É dança que se segue ao trabalho, é folga, é folia. E hoje é folia para todos, em que cada qual espanta os males que entender. Uma folia que se traz na alma e que fica a bailar-nos por dentro, incansável, no terreiro das nossas vidas.

Carla Gomes

(1) Excerto da canção “Chamateia”, letra e música de Luís Alberto Bettencourt e António Melo e Sousa


12 julho 2012

No próximo sábado, 14 de Julho, estreia em Lisboa (Ler Devagar, LX Factory) o documentário "Não me importara morrer se houvesse guitarras no céu", que o Tiago Pereira fez sobre a Chamarrita do Pico.

Vai ser um dia muito especial: vamos ter músicos, cantores e mandadores expressamente vindos dos Açores para animar o baile! E para começar um workshop de Chamarrita, para quem quiser aprender os passos e a coreografia... :))

O programa é:

18h00 - Workshop
21h30 - Estreia do filme
23h00 - Baile

A entrada é livre!

LIVRARIA LER DEVAGAR LX FACTORY
Rua Rodrigues Faria 103, Lisboa

Transportes
Autocarros: 60/714/720/732/738/742/758
Eléctricos: 15/18
Comboio: Alcântara Mar, Alcântara Terra

09 junho 2012

Chamarrita do Sodré
O workshop de Chamarrita mais breve de sempre surgiu espontaneamente na tarde de 7 de Junho, à porta da Music Box, em Lisboa, no rescaldo da estreia do filme do Tiago Pereira sobre as chamarritas do Pico. Sem música, em menos de 10 minutos, pusemos a malta a bailar. 
A Chamarrita do Sodré fica para a história ;) Cá vos espero de novo a partir de 19 de Junho na Casa da Comarca da Sertã!!
E vejam o documentário!
 http://jpn.icicom.up.pt/2012/06/06/tiago_pereira_lanca_filme_sobre_as_chamarritas_o_rock_and_roll_das_gentes_acorianas.html

21 maio 2012

Curso "Chamarrita da Ilha do Pico" 

Terças, das 21H30 às 23H00 | Casa da Comarca da Sertã
Datas: Maio 22, 29; Junho 05, 12; (4 aulas)
Chamarrita da Ilha do Pico, Açores

A Chamarrita é um baile mandado das ilhas dos Açores, que antigamente animava os serões e ainda hoje se baila nas festas populares, em particular nas ilhas do Pico, Faial, Flores e Terceira. A versão que vai aprender neste workshop é a Chamarrita de Santa Luzia do Pico, freguesia situada no Norte da ilha, junto às vinhas classificadas como Património Mundial pela UNESCO. (foto Pedro Soares)

Programa previsto: Passo e coreografia básica, o ritmo e a música; Bailar com o par; Mandamentos desde os simples aos mais avançados: "Salta, Quebra, Furta, Rola a Chamarrita, Quebra e Furta, Torreão, entre outros.

Preço:
Cursos (4 aulas): 25 balls
Aula avulso (1 aula): 8 balls

Inscrições:
Enviar e-mail com nome, nº telemóvel e nome do curso para: balldados@tradballs.pt

Local do curso:
Casa da Comarca da Sertã
Rua da Madalena, 171 - 3º
Lisboa

http://www.tradballs.pt/destaques.php?pag=destaques&id=124