A Chamarrita é um dos mais antigos bailes tradicionais dos Açores, que ainda hoje reúne espontaneamente a população, em festas populares e encontros ocasionais. Antigamente, era a Chamarrita que reinava nos momentos de convívio, as chamadas “folgas”, depois de um dia de trabalho nos campos. Hoje, há ainda um número apreciável de jovens que aprenderam a “bailar” (é esse o termo utilizado) e não dispensam uma roda de Chamarrita.
Baile de roda mandado, é o único no arquipélago que não é apenas “bailado” pelos grupos folclóricos e etnográficos, e que ainda permanece no sangue de quem aprendeu os seus passos. É acompanhada por vezes por cantadores, e sempre por tocadores, com violão, viola da terra, bandolim e eventualmente uma rebeca. Em cada ilha, e mesmo de freguesia para freguesia, coexistem diferentes versões da coreografia, o que não deixa de ter um resultado curioso, quando se juntam bailarinos de ilhas diferentes.
Durante os séculos XVIII e XIX, com a imigração de muitos açorianos para a América Latina, a Chamarrita espalhou-se por países como o Uruguai e a Argentina, tendo uma importância particular no Sul do Brasil, sobretudo no Rio Grande do Sul. Na província argentina de Entre Rios, chamavam-lhe “limpia bancos”, porque ninguém ficava sentado ao ouvir os primeiros toques da viola.
Ainda hoje este baile tradicional subsiste, sobretudo nas comunidades de pescadores e camponeses, e é um dos traços da cultura gaúcha, a par de outras danças também importadas dos Açores, como o “Pezinho”. Isto apesar de ter revestido formas diferentes, tanto na música, como nas letras e na coreografia.
No entanto, a Chamarrita continua a ter um papel fundamental, e é considerada “a Rainha das Danças” nos fandangos, suites de danças tradicionais do Brasil. Impressiona a força com que este baile de roda atravessou os séculos e as geografias, e com que permanece ainda hoje enraizado na cultura e no quotidiano de vários povos.